terça-feira, 23 de dezembro de 2008

A rua dos cataventos - Mário Quintana


Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.

Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.

Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arracar a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!

Um comentário:

Jussara disse...

E assim seguimos, morrendo um pouco e novamente a cada dia que passa... Vivemos rodeados de anús e urubus em peles de cordeiros, sugando tudo que podem a cada olhar...