quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Nada - Aline C. Costa


Já dizia o poeta:
Não sou nada, nunca serei nada.
O nada é a ausencia de ego,
egocentrismo, egoísmo.
O nada é comunhão,
é o estar sem ser,
é o ser sem estar.
Não sou nada, nunca serei nada,
e a paz em mim é a minha ausência.
...

A Criança - Alberto Caeiro


A Criança


A criança que pensa em fadas e acredita nas fadas
Age como um deus doente, mas como um deus.
Porque embora afirme que existe o que não existe
Sabe como é que as cousas existem, que é existindo,
Sabe que existir existe e não se explica,
Sabe que não há razão nenhuma para nada existir,
Sabe que ser é estar em um ponto
Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer.
...

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Poesia Zen


No instante de um pensamento,
Minha mente turbulenta chegou a um descanso.

O interior e o exterior,
Os sentidos e seus objetos,
São completamente lúcidos.

Em uma volta completa,
Esmaguei a grande vacuidade.

As dez mil manifestações
Surgem e desaparecem
Sem qualquer razão.

— Han-shan

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Manoel Bandeira - Poesia Falada vol.18






Noite morta

Noite morta.
Junto ao poste de iluminação
Os sapos engolem mosquitos.

Ninguém passa na estrada.
Nem um bêbado.

No entanto há seguramente por ela uma procissão de sombras.
Sombras de todos os que passaram.
Os que ainda vivem e os que já morreram.

O córrego chora.
A voz da noite . . .

(Não desta noite, mas de outra maior.)

Petrópolis, 1921
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domingo, 6 de setembro de 2009

Em Prosa e Verso - Sylvia Plath


Sylvia Plath (Jamaica Plain, Massachusetts, 27 de Outubro de 1932 — Primrose Hill, Londres, 11 de fevereiro de 1963) foi uma poetisa, romancista e contista norte-americana.
Reconhecida principalmente por sua obra poética, Sylvia Plath escreveu também um romance semi-autobiográfico, "A Redoma de Vidro" ("The Bell Jar"), sob o pseudônimo Victoria Lucas, com detalhamentos do histórico de sua luta contra a depressão. Assim como Anne Sexton, Sylvia Plath é creditada por dar continuidade ao gênero de poesia confessional, iniciado por Robert Lowell e W.D. Snodgrass.

Obras

* The Colossus (1960), coletânea de poemas;
* The Bell Jar (1963), único romance da autora;
* Ariel (1965), poemas;
* Crossing the Water (1971), coletânea de poemas;
* Johnny Pannic and the Bible of Dreams (1977), livro de contos e prosa;
* The Collected Poems (1981), poemas inéditos.

PALAVRAS

Golpes
De machado que fazem soar a madeira,
e os ecos!
Ecos partem
Do centro como cavalos.

A seiva
Jorra como lágrimas, como a
água lutando
Para repor seu espelho
Sobre a rocha

Que cai e rola,
Crânio branco
Comido por ervas daninhas.
Anos depois as encontro
Na estrada —

Palavras secas e sem rumo,
Infatigável bater de cascos.
Enquanto
Do fundo do poço estrelas fixas
Governam uma vida.

(Tradução: Ana Cristina César)

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Meus afetos - Aline C. Costa


Você partiu como um pássaro que voa livre no céu azul
Não podiamos te prender mais
Seu espírito se elevou ao céu,
Mesmo que te chamássemos na terra.
Seu corpo estava bem,
Mas sua mente não estava mais conosco.
Foi ao encontro dos teus,
Deixou-nos com um vazio no peito inexplicável
A casa está vazia, seu quarto. Mas não te preocupes,
O vazio ainda está cheio de tua presença
A presença do meu pai
Aquele que me ensinou a assobiar
Que me acompanha no karaokê
Que dança comigo
Minha companhia de copo
Como posso explicar nossa ambigüidade.
Éramos tão diferentes e tão iguais.
Meu pai!!!
Você está vivo na minha mente e coração
Você está vivo nos teus filhos
Nos teus netos
Depois cairá no esquecimento
Quando for a minha hora
Suas lembranças também morrerão
Mas não importa
Você é especial
Importante.
Espero poder encontrá-lo um dia.
Poder te abraçar e dizer o quando te amo.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Áudio Em Prosa e Verso - Oswald de Andrade


José Oswald de Sousa de Andrade (São Paulo, 11 de janeiro de 1890 - São Paulo, 22 de outubro de 1954) foi um escritor, ensaísta e dramaturgo brasileiro. Era filho único de José Oswald Nogueira de Andrade e de Inês Henriqueta Inglês de Sousa Andrade. Seu nome pronuncia-se com acento na letra a (Oswáld).

Foi um dos promotores da Semana de Arte Moderna que ocorreu 1922 em São Paulo, tornando-se um dos grandes nomes do modernismo literário brasileiro. Foi considerado pela crítica como o elemento mais rebelde do grupo.

Pronominais

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro

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Áudio "Grandes Sonetos"


A um poeta

Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha e teima, e lima , e sofre, e sua!

Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço: e trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua
Rica mas sóbria, como um templo grego

Não se mostre na fábrica o suplicio
Do mestre. E natural, o efeito agrade
Sem lembrar os andaimes do edifício:

Porque a Beleza, gêmea da Verdade
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.

Olavo Bilac

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sábado, 22 de agosto de 2009

Álvaro de Campos - Em Prosa e Verso

Poesia para escutar...

“Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.”
de Passagem das horas


Álvaro de Campos - Fernando Pessoa

Álvaro de Campos (15 de Outubro de 1890 - ?) é um dos heterónimos mais conhecidos de Fernando Pessoa. Este fez uma biografia para cada um dos seus heterónimos e declarou assim que Álvaro de Campos : «Nasceu em Tavira, teve uma educação vulgar de Liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas férias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o Opiário. Agora está aqui em Lisboa em inactividade.»
Era um engenheiro de educação inglesa e origem portuguesa, mas sempre com a sensação de ser um estrangeiro em qualquer parte do mundo. Pessoa disse também em relação a este heterónimo que :
Eu fingi que estudei engenharia.

Vivi na Escócia. Visitei a Irlanda. Meu coração é uma avozinha que anda Pedindo esmolas às portas da alegria.


Entre todos os heterónimos, Campos foi o único a manifestar fases poéticas diferentes ao longo de sua obra. Houve três fases distintas na sua obra. Começa sua trajetória como um decadentista (influenciado pelo Simbolismo), mas logo adere ao Futurismo: é a chamada Fase Sensacionista, em que produz, com um estilo assemelhado ao de Walt Whitman (a quem dedicou um poema, a Saudação a Walt Whitman), versilibrista, jactante, e com uma linguagem eufórica onde abundam as onomatopeias, uma série de poemas de exaltação do Mundo moderno, do progresso técnico e científico, da evolução e industrialização da Humanidade: é muito influenciado por Marinetti, um dos nomes cimeiros do Futurismo neste período. Após uma série de desilusões com a existência, assume uma veia niilista ou intimismo: é conhecida como Fase Abúlica, e assemelha-se muito, sobretudo nas temáticas abordadas, à obra do Pessoa ortónimo: a desilusão com o Mundo em que vive, a tristeza, o cansaço («o que há em mim é sobretudo cansaço», assim começa um dos seus mais famosos poemas) leva-o a reflectir, de modo assaz saudosista, sobre a sua infância, passada na «velha casa»: infância arquetípica, de uma felicidade plena, é o contraponto ao seu presente. Uma fase caracterizada pelo cansaço e pelo sono que se denota bastante no pessimista poema Dactilografia da obra Poemas:
Que náusea de vida !

Que abjecção esta regularidade ! Que sono este ser assim !

No poema Aniversário Álvaro de Campos compara a sua infância, «o tempo em que festejava o dia dos meus anos» com o tempo presente, em que, afirma «já não faço anos. Duro. Somam-se-me dias». Este é talvez o exemplo mais acabado - e mais conhecido - dessa mitificação da infância, por contraste à tristeza e descrença do poeta no presente.

domingo, 16 de agosto de 2009

Em Prosa e Verso - Alfonsina Storni

Imigrou com os seus pais para a província de San Juan na Argentina em 1896. Em 1901, muda-se para Rosario (Santa Fé), onde tem uma vida com muitas dificuldades financeiras. Trabalhou para o sustento da família como costureira, operária, atriz e professora.

Descobre-se portadora de câncer no seio em 1935. O suicídio de um amigo, o também escritor Horacio Quiroga, em 1937, abala-a profundamente.

Em 1938, três dias antes de se suicidar, envia de um hotel de Mar del Plata para um jornal, o soneto “Voy a Dormir”. Consta que suicidou-se andando para dentro do mar — o que foi poeticamente registrado na canção "Alfonsina y el mar", gravada por Mercedes Sosa; seu corpo foi resgatado do oceano no dia 25 de outubro de 1938. Alfonsina tinha 46 anos.

"Voy a Dormir"

Dientes de flores, confía de rocío,
manos de hierbas, tú, nodriza fina,
tenme puestas las sábanas terrosas
y el edredón de musgos escardados.

Voy a dormir, nodriza mía, acuéstame.
Pónme una lámpara a la cabecera,
una constelación, la que te guste,
todas son buenas; bájala un poquito.

Déjame sola: oyes romper los brotes,
te acuna un pie celeste desde arriba
y un pájaro te traza unos compases
para que te olvides. Gracias... Ah, un encargo,
si él llama nuevamente por teléfono
le dices que no insista, que he salido...

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

TU ME QUIERES BLANCA - Alfonsina Storni


Tú me quieres alba,
Me quieres de espumas,
Me quieres de nácar.
Que sea azucena
Sobre todas, casta.
De perfume tenue.
Corola cerrada

Ni un rayo de luna
Filtrado me haya.
Ni una margarita
Se diga mi hermana.
Tú me quieres nívea,
Tú me quieres blanca,
Tú me quieres alba.

Tú que hubiste todas
Las copas a mano,
De frutos y mieles
Los labios morados.
Tú que en el banquete
Cubierto de pámpanos
Dejaste las carnes
Festejando a Baco.
Tú que en los jardines
Negros del Engaño
Vestido de rojo
Corriste al Estrago.

Tú que el esqueleto
Conservas intacto
No sé todavía
Por cuáles milagros,
Me pretendes blanca
(Dios te lo perdone),
Me pretendes casta
(Dios te lo perdone),
¡Me pretendes alba!

Huye hacia los bosques,
Vete a la montaña;
Límpiate la boca;
Vive en las cabañas;
Toca con las manos
La tierra mojada;
Alimenta el cuerpo
Con raíz amarga;
Bebe de las rocas;
Duerme sobre escarcha;
Renueva tejidos
Con salitre y agua;
Habla con los pájaros
Y lévate al alba.
Y cuando las carnes
Te sean tornadas,
Y cuando hayas puesto
En ellas el alma
Que por las alcobas
Se quedó enredada,
Entonces, buen hombre,
Preténdeme blanca,
Preténdeme nívea,
Preténdeme casta.
...

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Aguardando luz verde - Ana Santana

Se não me tivesses cortado
a palavra, António,
satisfaria esse teu
ardente desejo
e dir-te-ia do que
se vê nos meus olhos
sob um olhar turvo

só que quando o fazes, António,
está turvo o dia
e nada se pode por aqui,
esperando a vida,
melhor, espero por mim
dormindo, o milagre no chão
sonhando

não sonho já contigo
estou semeando plantas, António
espero as flores para te falar,
que com o seu desabrochar
venha a tua luz verde
para os meus olhos
venhas os teus, límpidos
e atentos, António
tua boca escutando a minha voz.

(Antologia da poesia
feminina dos PALOP)

domingo, 9 de agosto de 2009

Retrato - Cecília Meireles


Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?

Minha Impressão:


Quando li esta poesia com meus quatorze anos, percebi com tristeza a brevidade da vida, percebi que o que agora é jovial não é perene... Só nós restará a lembrança do que fomos... Meu mundo se abriu e se fechou ao mesmo tempo. Esta temática - a morte e a velhice - me assombra até hoje, como um fantasma.
...

Depois do sol... Cecília Meireles


Fez-se noite com tal mistério,
Tão sem rumor, tão devagar,
Que o crepúsculo é como um luar
Iluminando um cemitério . . .

Tudo imóvel . . . Serenidades . . .
Que tristeza, nos sonhos meus!
E quanto choro e quanto adeus
Neste mar de infelicidades!

Oh! Paisagens minhas de antanho . . .
Velhas, velhas . . . Nem vivem mais . . .
— As nuvens passam desiguais,
Com sonolência de rebanho . . .

Seres e coisas vão-se embora . . .
E, na auréola triste do luar,
Anda a lua, tão devagar,
Que parece Nossa Senhora

Pelos silêncios a sonhar . . .
...

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O Ceifador - Aline C. Costa


Eis que lhe aparece o Ceifador,
sua túnica preta, sua foice.
Não lhe é permitido gritar por socorro
só existe o seu ser e a morte,
ser este que se extinguirá em segundos,
quem serás tu?
O teu entendimento de si é o nada...
Não existe mais o eu,
não existe mais a essência da vida
todos morrem um dia,
Maldito sejas tu cobra venenosa que nos assola com a morte
porque tentar o homem?
Porque te satisfaz vê-lo rastejar perante a morte.
O que resta são apenas lembranças,
que em menos de 50 anos serás esquecida,
aí não existirás mais,
o resquício de sua vida será apagada
sua identidade,
suas manias,
seus desejos...
O que importará para seus bisnetos,
se gostavas de doces,
de ver jornal,
novela,
o que importará a instrução que não teves
ou seu saber sabido das coisas do mundo...
Não importas para ninguém...
Agora o que te resta é deliciar- te com o fim que se aproxima
e quem sabe viver uma nova vida, sem significado, sem significância
para ser novamente esquecido...
És apenas um número de CPF.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Into My Arms - Tradução


Eu não acredito em um deus intervencionista
Mas eu sei, meu amor, que tu acreditas
E se eu também acreditasse, eu ajoelharia
E rogaria a ele
Que não tocasse num único fio de cabelo de tua cabeça
Que te deixasse do jeito que tu és
E se ele sentisse que precisa te guiar
Que ele te guie direto para os meus braços

Para os meus braços, oh, deus, para os meus braços
Para os meus braços, oh, deus, para os meus braços
Para os meus braços, oh, deus, para os meus braços
Para os meus braços, oh, deus, para os meus braços
...

E eu não acredito na existência de anjos
Mas ao te olhar, me pergunto se não é verdade
E se eu acreditasse, eu os convocaria a todos juntos
E pediria que te guardassem
Que cada um lhe acendesse uma vela
Para fazerem o teu caminho limpo e iluminado
E andarem, como cristo, em graça e amor
E te guiarem para os meus braços

Para os meus braços, oh, deus, para os meus braços
Para os meus braços, oh, deus, para os meus braços

Porém, no amor eu acredito
E eu sei que tu também acreditas
E eu acredito em algum tipo de caminho
Que nós podemos seguir andando, tu e eu
Então, mantenha tuas velas acesas
Que faça da jornada dela pura e brilhante
Que ela irá sempre retornar
Sempre e sempre mais

Para os meus braços, oh, deus, para os meus braços
Para os meus braços, oh, deus, para os meus braços
Para os meus braços, oh, deus, para os meus braços
...


Antologia Adélia Prado


ENSINAMENTO


Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
“Coitado, até essa hora no serviço pesado”.
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente,
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.

Adélia Prado. Poesia reunida, Editora Siciliano, 1991 – S.Paulo, Brasil

Download:
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quinta-feira, 23 de julho de 2009

Meio Dia - Sophia de Mello Breyner Andresen

Mezzogiorno

Mezzogiorno. Un angolo di spiaggia senza nessuno.
In alto il sole, profondo, enorme, aperto.
Ha reso il cielo di ogni dio deserto.
La luce cade implacabile come un castigo.
Non ci sono fantasmi né anime,
E il mare immenso, solitario e antico
Sembra che applauda.

(trad. Gabriella Minisini
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Meio-dia

Meio-dia. Um canto da praia sem ninguém.
O sol no alto, fundo, enorme, aberto,
Tornou o céu de todo o deus deserto.
A luz cai implacável como um castigo.
Não há fantasmas nem almas,
E o mar imenso solitário e antigo
Parece bater palmas.

Forse un mattino - Eugenio Montale


Forse un mattino

Forse un mattino andando in un'aria di vetro,
arida, rivolgendomi, vedrò compirsi il miracolo:
il nulla alle mie spalle, il vuoto dietro
di me, con un terrore di ubriaco.

Poi come s'uno schermo, s'accamperanno di gitto
alberi case colli per l'inganno consueto.
Ma sarà troppo tardi; ed io me n'andrò zitto
tra gli uomini che non si voltano, col mio segreto.

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Talvez uma manhã

Talvez uma manhã andando num ar de vidro,
árida, voltando-me, verei cumprir-se o milagre:
o nada às minhas costas, detrás de mim o vazio
com um terror de bêbedo.

Depois como numa tela, acamparão de um jato
árvores casas colinas para a ilusão costumeira.
Mas será tarde; e eu partirei calado
entre os homens que não se voltam, com o meu segredo.

In Limine - Eugenio Montale

Goza se o vento que entra no pomar
volta a bater com a onda da vida
aqui onde afunda um morto
enredo de memorias,

O que sentes ruflar não é vôo,
mas comoçõ do regaço eterno;
vês como se transforma esta fimbria
de terra solitária num crisol.

São brenhas neste lado do birio muro.
se prossegues, deparas,
talvez com o fantasma que te salva:
compõem-se aqui as histórias, os atos
apagados para o jogo do futuro.

Procura a malha aberta nessa rede
estreita, salta e foge, vai embora!
Roguei por ti, - agora minha sede
há de ser branda, menos acre e ressaibo...
...

Ho sceso milioni di scale - Eugenio Montale


Ho sceso, dandoti il braccio, almeno un milione di scale
e ora che non ci sei è il vuoto ad ogni gradino.
Anche così è stato breve il nostro lungo viaggio.
Il mio dura tuttora, né più mi occorrono
le coincidenze, le prenotazioni,
le trappole, gli scorni di chi crede
che la realtà sia quella che si vede.

Ho sceso milioni di scale dandoti il braccio
non già perché con quattr'occhi forse si vede di più.
Con te le ho scese perché sapevo che di noi due
le sole vere pupille, sebbene tanto offuscate,
erano le tue.

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Desci um milhão de escadas

Desci, dando-te o braço, ao menos um milhão de escadas
e agora que aqui não estás é o vazio a cada degrau.
Mesmo assim foi breve nossa longa viagem.
A minha dura ainda, mas já não me ocorre pensar
nas conexões, nas reservas,
nas ciladas, nos vexames dos que crêem
que a realidade é aquilo que se vê.

Desci milhões de escadas dando-te o braço
e não porque com quatro olhos talvez se veja melhor.
Contigo as desci porque sabia que de nós dois
as únicas verdadeiras pupilas, ainda que tão ofuscadas,
eram as tuas.

(tradução Equipa "O Ponto de Encontro")

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Pneumotórax - Manuel Bandeira

Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três . . . trinta e três . . . trinta e três . . .
— Respire.

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— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino