segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Livro A Mensagem - Fernando Pessoa




A principal obra de "Pessoa ele-mesmo" é Mensagem, uma coletânea de poemas sobre os grandes personagens históricos portugueses. O livro foi, também, o único a ser publicado enquanto foi vivo.

Na obra, Fernando Pessoa expressou por outras palavras a necessidade de provocar, de lutar contra as adversidades, de não ter medo de ir contra a corrente e de defender o que se acha justo e perfeito: “Para passar o Bojador / Há que passar além da dor / Deus ao mar o perigo e o abismo deu / Mas também foi nele que espelhou o céu.”

Numa ode patriótica composta entre os anos 20 e 30, de demorada elaboração, intitulado Mensagem, o poeta Fernando Pessoa imaginou a Europa como um corpo de mulher. Estendida, tinha ela um dos seus cotovelos, o direito, fincado na Inglaterra e o outro, o esquerdo, recuado, na Península italiana, cabendo a Portugal ser o rosto nesta hipotética figuração. Pode não ter sido o rosto, mas a posição geográfica de Portugal, pequena faixa de terra voltada para a imensidão do Oceano à sua frente, condicionou seu destino por quase cinco séculos.

Mensagem nada mais é do que Portugal virado para a Europa, mas da sua orla, do seu Atlântico feito universalidade. É um livro com uma finalidade universalista, como se pode perceber pelo que foi dito antes. Um poema trinitário, onde se propõem uma síntese – o cerne da nobreza; uma antítese – a posse do mar; e uma síntese – a futura civilização intelectual. Resumo de oito séculos, não é só poesia que exalta, mas sobretudo poesia que obscurece para iluminar, pelas regras dos alquimistas.

Nota preliminar da obra

O entendimento dos símbolos e dos rituais (simbólicos) exige do intérprete que possua cinco qualidades ou condições, sem as quais os símbolos serão para ele mortos, e ele um morto para eles.

A primeira é a simpatia; não direi a primeira em tempo, mas a primeira conforme vou citando, e cito por graus de simplicidade. Tem o intérprete que sentir simpatia pelo símbolo que se propõe interpretar.

A segunda é a intuição. A simpatia pode auxiliá-la, se ela já existe, porém não criá-la. Por intuição se entende aquela espécie de entendimento com que se sente o que está além do símbolo, sem que se veja.

A terceira é a inteligência. A inteligência analisa, decompõe, reconstrói noutro nível o símbolo; tem, porém, que fazê-lo depois que, no fundo, é tudo o mesmo. Não direi erudição, como poderia no exame dos símbolos, é o de relacionar no alto o que está de acordo com a relação que está embaixo. Não poderá fazer isto se a simpatia não tiver lembrado essa relação, se a intuição a não tiver estabelecido. Então a inteligência, de discursiva que naturalmente é, se tornará analógica, e o símbolo poderá ser interpretado.

A quarta é a compreensão, entendendo por esta palavra o conhecimento de outras matérias, que permitam que o símbolo seja iluminado por várias luzes, relacionado com vários outros símbolos, pois que, no fundo, é tudo o mesmo. Não direi erudição, como poderia ter dito, pois a erudição é uma soma; nem direi cultura, pois a cultura é uma síntese; e a compreensão é uma vida. Assim certos símbolos não podem ser bem entendidos se não houver antes, ou no mesmo tempo, o entendimento de símbolos diferentes.

A quinta é a menos definível. Direi talvez, falando a uns, que é a graça, falando a outros, que é a mão do Superior Incógnito, falando a terceiros, que é o Conhecimento e a Conversação do Santo Anjo da Guarda, entendendo cada uma destas coisas, que são a mesma da maneira como as entendem aqueles que delas usam, falando ou escrevendo.

Estrutura da obra

Os poemas do livro estão organizados de forma a compor uma epopéia fragmentária, em que o conjunto dos textos líricos acaba formando um elogio de teor épico a Portugal. Traçando a história do seu país, Pessoa envereda por um nacionalismo místico de caráter sebastianista.

O livro Mensagem está dividido em três partes: O Brasão, como primeira parte, representando em símbolo a nobreza na sua essência. Essa nobreza age no passado na segunda parte, O Mar Português e no futuro na terceira, O Encoberto. Três elocuções em latim acompanham cada parte, no seu inicio. Bellum sine bello para a primeira, ou seja, Guerra sem Guerrear, potência sem ato, a parte que se mantém sempre eterna, como nobreza e caráter. Possesio Maris para a segunda, ou seja, a nobreza que toma e possui com um ato, mas que com esse ato não se esgota minimamente – apenas é uma posse do mar, o ter e não o ser. É na terceira parte, na Pax in Excelsis, paz nas alturas, em que o homem se ultrapassa finalmente a si mesmo e se realiza plenamente no que sempre foi.

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