quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Livro Sonetos Camões


“De Luís de Camões sabemos pouco, é certo, mas sabemos o suficiente para se não poder fazer dele outro modelo que não seja de singularidade. Pois em que padrão poderia transformar-se um homem que não estudou leis, não teve modo de vida conhecido, não levou nenhuma dama à igreja, não contribuiu para o aumento da população, não pertenceu a qualquer confraria, e cuja vida é capaz de ter sido mesmo das mais desgraçadas que jamais a qualquer português letrado coube em sorte? Camões, se modelo é, convenhamos que é apenas modelo de poesia e de liberdade — e isso basta.”

Eugénio de Andrade, “Quem celebra quem” in Camões, nº1, Agosto de 1980, Ed. Caminho
(Comemorações do 4º Centenário da Morte de Camões)

O que é Soneto?

O soneto é um poema lírico composto na maioria das vezes de catorze versos distribuídos em dois quartetos e dois tercetos, obedecendo a regras restritas quanto à disposição das rimas. Sua forma regular, simétrica e restritiva favorece a precisão, a concisão e a sugestão (Baudelaire: "Parce que la forme est contraignante, l'idée jaillit plus intense" – Por causa da forma restritiva, a idéia faz-se mais intensa); ela impede o poeta de ceder às liberdades do lirismo. A rima e o movimento das estrofes permitem jogos de antíteses e de metáforas que exprimem as tensões – a complexidade da vida interior do poeta. O soneto é então caracterizado por uma forte coerência interna. Em outras palavras, ele permite uma concordância perfeita entre forma e conteúdo.
Desde Petrarca, o soneto vem sendo quase sempre prestigiado. Ele constitui sem dúvida o gênero literário mais praticado no Ocidente durante os últimos cinco séculos (estima-se em 45000 o número de sonetos que foram publicados na França, apenas no século XVI).
Muitos dos grandes escritores da literatura universal fizeram sonetos. No entanto, nenhum poeta praticou este gênero literário de uma maneira exclusiva. A extraordinária popularidade do soneto deve-se em parte à sua forma fixa, que faz dele um molde conveniente para poetas sem inspiração. Ele tem sido usado muitas vezes para poemas de ocasião.
O soneto é endereçado a um público restrito, capaz de apreciar as riquezas e as nuances dos versos e da rima; é um gênero nobre. Isso justifica o fato dos sonetistas terem sido formados, durante muito tempo, por poetas da corte e dos castelos (no século XVII, eles eram muito populares nos salões).
O soneto teve grande importância na definição de uma nova poesia na França no Renascimento (com a Plêiade) e especialmente no século XIX. Baudelaire e seus seguidores Verlaine, Mallarmé e Rimbaud re-introduziram na poesia o soneto que o Século das Luzes tinha ofuscado, fazendo-o passar por transformações importantes (deslocamento dos versos e novo posicionamento de rimas) com o objetivo de exprimir uma nova concepção do mundo.
Apesar das variações no posicionamento das rimas e das estrofes, o soneto tem conservado praticamente a mesma forma através dos séculos. Seu conteúdo, no entanto, apresenta uma grande diversidade: o soneto é na maioria das vezes sentimental (é um atestado que exprime o estado do coração de um indivíduo), mas ele pode também ser satírico, político, moral, religioso, realista, burlesco. Dois grandes momentos do soneto: o Renascimento, com os poetas da Plêiade, e o século XIX, de Baudelaire a Mallarmé, depois de aproximadamente dois séculos de


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