terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Livro último Soneto - Cruz e Souza



Piedade:

O coração de todo o ser humano
Foi concebido para ter piedade,
Para olhar e sentir com caridade
Ficar mais doce o eterno desengano.

Para da vida em cada rude oceano
Arrojar, através da imensidade,
Tábuas de salvação, de suavidade,
De consolo e de afeto soberano.

Sim! Que não ter um coração profundo
É os olhos fechar à dor do mundo,
ficar inútil nos amargos trilhos.

É como se o meu ser campadecido
Não tivesse um soluço comovido
Para sentir e para amar meus filhos!

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....

Um comentário:

Anônimo disse...

Não és nada
e nunca foste nada
para os outros
que são tudo para ti.
Nem mesmo aquele ínfimo pedaço
que de ti deste
julgando ser o teu maior pedaço
chegou para preencher
algum espaço no céu com o teu nome.

És um vazio na terra
que nada tem por dentro
para além de sentimentos ocos
e emoções emprestadas .
Não tens vida própria
e vives à custa dos outros
esperando alimentar os teus sonhos
com as migalhas que os outros te dão
em troca do pouco que lhes dás.

Depois é ver-te a escrever como louca
a pensar que alguém escuta as tuas palavras
e só porque as carregas com toda as tuas forças no papel
julgas estupidamente
que podes assim deixar alguma marca.
Mas não...
Digo-te que não deixas nem um traço
porque és apenas pó
e o vento sopra-te rapidamente da folha sem remorso algum.

Não amas
e nem sequer podes mais amar
com esse coração assim desfeito
por tantos medos aguçados.
É que tu sabes bem
que assustas qualquer sentimento
que passeie alegremente pelo teu peito
com todo esse medo que tens colado a ti
e nem sequer te importas.

Já não enfrentas o mundo...
Se é que alguma vez o enfrentaste de frente
porque sempre te vi fugir
como um cachorro assustado.
Já não sabes como se luta
porque te esqueceste como isso se faz
de tanto estares
enfiada nesse teu buraco seguro
cercada de fantasias.

Esperneias...
Gritas e choras
e enquanto te debates sozinha
por entre dúvidas e certezas
nos teus pensamentos mal amanhados
vais suplicando
como um peixe fora de água

que te deixem ao menos respirar.

Então, hoje sei que olhas sufocada
para aquela caneta
que tantas vezes te fez sorrir
e até ela baixa os olhos
perante toda essa tristeza
que adivinha estar estampada nesse teu rosto.
E tal como tantos outros
ela também já se sente enfadada
das tuas lamurias sem nexo
que esculpes com as tuas mãos
nas curvas da poesia morta.
Agora ela só quer
procurar outros poetas
que saibam celebrar com as palavras
essa vida que tu
já não tens nos teus dedos.

Daniela Pereira